domingo, 30 de novembro de 2008

Os contos de fadas, releituras e o cômico

A década de 70 foi um marco para a literatura infantil. Influenciados pelo grande escritor Monteiro Lobato, surgiram escritores que renovaram o mercado infantil com obras onde há predominância do humor, do lúdico, do imaginário e de uma linguagem inovadora. Entre esses escritores estão: Fernanda Lopes de Almeida, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Bartolomeu Campos Queirós, Ziraldo, Lygia Bojunga Nunes, Wander Pirol.
Os contos de fadas também obtiveram mudanças significativas, resultado dessa renovação textual. As paródias e releituras ganharam espaço no gênero literário, em virtude da qualidade que apresentam. Alguns autores ganharam destaque como Marina Colasanti, Chico Buarque, Ziraldo, Pedro Bandeira e Sylvia Orthof.
As releituras dos contos de fadas obtiveram muito sucesso entre o publico infantil, pois possuem uma linguagem de fácil acesso ao leitor e muito próxima da sua realidade.

A produção poética dessa fase também obteve grande prestígio, pois se desfez do didatismo e pedagogismo tradicional, tornando o texto mais acessível ao leitor, por meio da tematização do universo infantil e do uso de uma linguagem menos formal e mais próxima da oralidade (RAMPAZZO, 2004, p.84)


Há, nessas obras, uma marcante presença do cômico. A comicidade e o riso são características próprias da raça humana, “ uma vez que o homem é único ser capaz de expressar as emoções suscitadas pelo mundo exterior” (Rampazzo, 2004, p.53). Portanto, a comicidade está inteiramente ligada ao comportamento humano, pois só ele possui sabedoria para a atribuição de valores morais.
Os objetos inanimados ou animais também podem ser fontes de riso somente se lembrarem alguma característica do comportamento humano.

um macaco será cômico se seus gestos, caretas e comportamentos remeterem a algum aspecto ou comportamento humano, do mesmo modo que um chapéu ou uma roupa absurda suscitarão o riso se neles ficarem gravadas o gosto de seu criador que não combina com o nosso. (RAMPAZZO, 2004, p.56)

Muitos são as situações que podem fazer com que a comicidade e o riso aconteçam. A diferença é um exemplo claro. Qualquer detalhe que diferencie uma pessoa ou coisa do meio a que participa, pode ser transformado em motivo para o riso maldoso. Porém, se a diferença causa compaixão ao receptor, o riso não acontece, pois o sentimento de “dó” ou compaixão anula o riso.


As diferenças também podem ser cômicas, pois toda particularidade ou estranheza que distingue uma pessoa do seu meio pode transformá-la em objeto de riso. No entanto, o disforme só suscita o riso se não nos causar compaixão ou piedade, porque a emoção anula a comicidade. (RAMPAZZO, 2004, p.56)


Ao comparar uma pessoa com um animal, destaca-se uma qualidade negativa que possui, tornando-se motivo de riso. A comparação salienta as imperfeições da pessoa, atribuindo uma situação cômica ao fato. “Desta forma, se falamos a alguém: -“Você é burro como uma porta!”, estamos dizendo que este é incompetente e incapaz de fazer algo, revelando o seu lado negativo e submetendo-o ao riso”. (RAMPAZZO, 2004, p.57)

Nessas circunstancias, o riso ocupa um lugar de correção social. A comicidade decorrente das ações citadas não é ingênuo, possui o poder de humilhar, ridicularizar e menosprezar o objeto do riso, servindo como sanção para os desvios (diferenças e comparações). Para Versiani, possui uma finalidade utilitária: a correção social, servindo como um trote social.
Um dos maiores medos do homem é a ridicularizarão, levando-o a mostrar à sociedade uma personalidade que não lhe pertence pelo medo de ser excluído e ridicularizado. Segundo Menezes (1974), o riso ocupa neste caso uma técnica de controle social.

Portanto, o temor do ridículo cria no espírito humano a dualidade entre a essência e a aparência, levando o homem a parecer o que deveria ser frente a sociedade, por receio da punição que o riso impõe, porque, como atesta Menezes (1974), o riso é usado como técnica de controle social para expressar rejeições ou hostilidades, desenvolver atitudes comuns, indicar segurança ou amizade, aprovar ou desaprovar atos e comportamentos do homem. (RAMPAZZO, 2004, p.59)


Apesar de ser uma técnica de controle social, o cômico pode ser usado a favor das classes baixas como forma de luta e reivindicação contra os poderosos e autoritários, já que o riso tem o poder de humilhar e ridicularizar seu objeto.
Na literatura, o cômico ocupa lugar semelhante: instruir o leitor a tornar-se critico e perceba na leitura a falsidade e as características negativas do homem, aparecendo como técnica para acabar com autoritarismo, falsa moral, entre outros defeitos sociais.
Já o riso bom é acompanhado por sentimentos de afetuosidade e surge do humor e não do sarcasmo. Não há condenação por defeitos ou comparações, os pontos negativos não são enaltecidos.

a essência do riso alegre distancia-se disso, pois notamos que esse riso não se liga a qualquer sentimento negativo, esquecendo o ódio, a raiva e o escárnio, sendo vivificador e puro, como um sorriso de um recém-nascido para sua mãe. (RAMPAZZO, 2004, p.64).



Dentro desse gênero onde o humor aparece com significado, destaca-se a autora Sylvia Orthof. Suas obras caracterizam-se pela linguagem lúdica e humorística, repleta de inversões, trocadilhos, paradoxos, repetições, caricaturas, entre outras, facilitando o entendimento do público, tornando a leitura uma fonte de divertimento e prazer.
Sylvia Orthof (1932- 1997) nasceu em três de setembro no estado do Rio de Janeiro. Aos dezoito anos foi estudar teatro em Paris, retornando ao Brasil um ano e meio depois. Aos vinte e cinco anos, casou-se com o médico Sávio Pereira Lima, mudando-se para uma aldeia de pescadores no sul da Bahia, deixando sua vida teatral. Nos anos 60, mudou-se para Brasília onde retomou sua vida teatral.
No ano de 1966, foi obrigada a fugir para Paris devido a perseguições e censuras aos seus trabalhos. Aos quarenta anos, Sylvia ficou viúva. Em seguida, casou-se com Tato Gostkorzwicz. Foi quando retornou ao Rio e estreou a peça teatral infantil A viagem do Barquinho. Desde então, teve grande incentivo de autores, como Ruth Rocha, trilhando uma carreira de sucesso no mundo infantil. Em vinte e quatro de julho de 1997, Sylvia partiu devido a um câncer, deixando para sua filha, Cláudia, a seguinte carta:
Se eu me for
vou de bagagem
sem ter mala
e compromisso.
Vou de anjo,
sem ter asa,
vou morando,
sem ter casa.
Vou medir
o infinito.

Entre suas principais obras encontram-se releituras de contos de fadas, como “Uxa, ora fada, ora bruxa”, “Ervilina e o Princês” ou “Deu a louca em Ervilina”, “ A fada sempre Viva e a galinha fada “, “ Fada cisco quase nada”, “Manual de boas maneiras das fadas”, “ Fada Fofa em Paris”, “ Fada Fofa e os sete anjinhos” “ Fada Fofa, Onça Fada”.
As fadas, personagens principais nessas releituras, não se comparam as fadas dos contos originais, pois são sempre teimosas, bagunceiras e contestadoras.
Essas características opostas as fadas originais levam o leitor, de uma maneira agradável e divertida, levam o leitor a refletir sobre a sociedade.



Porém essas personagens se distanciam das fadas boas, generosas e bem comportadas dos contos tradicionais, pois as fadas de Sylvia sempre são teimosas, contestadoras, bagunceiras, além disso, a comicidade de suas "histórias ao contrário" é um convite para o leitor refletir sobre verdades sociais, através de muito riso e brincadeira. (RAMPAZZO, 2004, p.103)



Utiliza sua arte para criticar a sociedade (política, social e ética), entrelaçando o texto sempre com bom humor.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Os Contos de Fadas


Os Contos de Fadas são historias que fazem parte da infância de toda criança. Sua origem é de difícil precisão, pois participam de várias culturas diferentes. São espalhados oralmente ou pela escrita e ainda contém sabedoria popular, essencial para a humanidade.
Os primeiros registros dos Contos de Fadas, de acordo com Coelho (1987) foram realizados pelos egípcios. Em seguida apareceram na Índia, depois na Palestina e ainda na Grécia Clássica.
Quando surgiram, os Contos de Fadas não eram direcionados às crianças. Segundo Coelho (1987), a transformação para literatura infantil teria acontecido com Perrault, na França por volta do séc. XVII.
Charles Perrault pode ser considerado o primeiro escritor da literatura infantil. Suas historias tiveram inicio quando adaptava para a corte francesa enredos que ouvia de contadores populares, acrescentando ou retirando detalhes e acontecimentos como cenas de sexualidade ou rituais da cultura pagã que a corte pudesse não gostar. Suas obras continham paisagens tipicamente francesas, damas e cavaleiros. Suas personagens eram pessoas geralmente de seu cotidiano, como vizinhos ou amigos.
As fadas e o mágico são elementos que aparecem com pouca freqüência, deixando maior espaço para a realidade. Escrevia historias de narração simples que ao término traziam conceitos morais em verso. A moralidade continha inspirações derivadas do cristianismo, mas não aparecia de forma evidente no texto. para Perrault, “a principal característica do livro para criança era evidentemente a moralidade de inspiração cristã, mas apresentada disfarçadamente.” (Góes, 1991, p.77)
Os Contos da Mamãe Gansa, escritos por Perrault, é uma coletânea de Contos de Fadas que integram o mundo mágico dos Contos Maravilhosos. Entre os que fazem parte dessa coletânea, podemos citar A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela ou O Sapatinho de Vidro, O Gato de Botas, O Pequeno Polegar, dentre outros.
Ainda houveram escritores importantes para a literatura infantil, como os irmãos Grimm, no séc. XVII, na Alemanha e Andersen, na Dinamarca no séc. XIX, e o mais atual Disney, no séc. XX, na América, que apesar de não ter criado nenhum conto, tornou-se popularmente conhecido pelas suas releituras como cineasta. Sua primeira obra foi Branca de neve e os sete anões.

Não criou nenhum conto, mas ficou conhecido pelas releituras que fez dos contos de fadas, como a primeira: “Branca de neve e os sete anões”, animação lançada nos cinemas, que na época (como nos tempos atuais) era uma poderosa aliada midiática. As histórias eram facilmente compreensíveis, refletindo os valores médios da tradição americana (COSTA; BAGANHA, 1989).


Em suas adaptações, muitas passagens contidas no original foram cortadas devido a fortes acontecimentos que pudessem assustar as crianças, privando-as de desacomodarem seus conflitos para uma futura resolução.
Os Contos de Fadas exercem sobre os pequenos leitores a função de tirá-los da realidade e vivenciar prazeres do mundo mágico. As crianças utilizam essas experiências pra contribuir em suas decisões diante de situações complexas. Apesar de viverem em um mundo adulto, pensam, vêem, sentem de forma distinta. Para Costa e Baganha (1989), o mundo não é visto como algo fora dela. A construção de seu interior acontece no confronto entre seus poderes e seus limites no mundo exterior.
Para Bettilheim (1980), o intelectual de uma criança é formado através de historias, mitos, religiões e contos de fadas que alimentam sua imaginação, funcionando como agente socializador. A partir dos conteúdos que são oferecidos nas historias, contos ou mitos, a criança forma seus conceitos e seus próprios padrões sociais.

Os Contos de Fadas

Os Contos de Fadas são historias que fazem parte da infância de toda criança. Sua origem é de difícil precisão, pois participam de várias culturas diferentes. São espalhados oralmente ou pela escrita e ainda contém sabedoria popular, essencial para a humanidade.
Os primeiros registros dos Contos de Fadas, de acordo com Coelho (1987) foram realizados pelos egípcios. Em seguida apareceram na Índia, depois na Palestina e ainda na Grécia Clássica.
Quando surgiram, os Contos de Fadas não eram direcionados às crianças. Segundo Coelho (1987), a transformação para literatura infantil teria acontecido com Perrault, na França por volta do séc. XVII.
Charles Perrault pode ser considerado o primeiro escritor da literatura infantil. Suas historias tiveram inicio quando adaptava para a corte francesa enredos que ouvia de contadores populares, acrescentando ou retirando detalhes e acontecimentos como cenas de sexualidade ou rituais da cultura pagã que a corte pudesse não gostar. Suas obras continham paisagens tipicamente francesas, damas e cavaleiros. Suas personagens eram pessoas geralmente de seu cotidiano, como vizinhos ou amigos.
As fadas e o mágico são elementos que aparecem com pouca freqüência, deixando maior espaço para a realidade. Escrevia historias de narração simples que ao término traziam conceitos morais em verso. A moralidade continha inspirações derivadas do cristianismo, mas não aparecia de forma evidente no texto. para Perrault, “a principal característica do livro para criança era evidentemente a moralidade de inspiração cristã, mas apresentada disfarçadamente.” (Góes, 1991, p.77)
Os Contos da Mamãe Gansa, escritos por Perrault, é uma coletânea de Contos de Fadas que integram o mundo mágico dos Contos Maravilhosos. Entre os que fazem parte dessa coletânea, podemos citar A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela ou O Sapatinho de Vidro, O Gato de Botas, O Pequeno Polegar, dentre outros.
Ainda houveram escritores importantes para a literatura infantil, como os irmãos Grimm, no séc. XVII, na Alemanha e Andersen, na Dinamarca no séc. XIX, e o mais atual Disney, no séc. XX, na América, que apesar de não ter criado nenhum conto, tornou-se popularmente conhecido pelas suas releituras como cineasta. Sua primeira obra foi Branca de neve e os sete anões.

Não criou nenhum conto, mas ficou conhecido pelas releituras que fez dos contos de fadas, como a primeira: “Branca de neve e os sete anões”, animação lançada nos cinemas, que na época (como nos tempos atuais) era uma poderosa aliada midiática. As histórias eram facilmente compreensíveis, refletindo os valores médios da tradição americana (COSTA; BAGANHA, 1989).


Em suas adaptações, muitas passagens contidas no original foram cortadas devido a fortes acontecimentos que pudessem assustar as crianças, privando-as de desacomodarem seus conflitos para uma futura resolução.
Os Contos de Fadas exercem sobre os pequenos leitores a função de tirá-los da realidade e vivenciar prazeres do mundo mágico. As crianças utilizam essas experiências pra contribuir em suas decisões diante de situações complexas. Apesar de viverem em um mundo adulto, pensam, vêem, sentem de forma distinta. Para Costa e Baganha (1989), o mundo não é visto como algo fora dela. A construção de seu interior acontece no confronto entre seus poderes e seus limites no mundo exterior.
Para Bettilheim (1980), o intelectual de uma criança é formado através de historias, mitos, religiões e contos de fadas que alimentam sua imaginação, funcionando como agente socializador. A partir dos conteúdos que são oferecidos nas historias, contos ou mitos, a criança forma seus conceitos e seus próprios padrões sociais.